quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ex-diretor da Saúde diz que há pressão religiosa no Ministério

Dirceu Bartolomeu GrecoO médico infectologista Dirceu Bartolomeu Greco, disse que foi demitido do cargo de diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde porque a política desenvolvida sob sua gestão não “coadunava com a política conservadora do atual governo”. Em entrevista ao jornal O Globo, o ex-diretor disse que há pressões de religiosos na pasta comandada por Alexandre Padilha e falou da mistura entre religião e saúde pública. Greco, de 60 anos, foi demitido por Padilha na noite da última terça-feira, 4. Ontem, dois diretores adjuntos do Departamento de DST e Aids — Ruy Burgos Filho e Eduardo Barbosa — pediram demissão.

> Diretor da Saúde é exonerado após polêmica com campanha anti-Aids

— Em qualquer situação, o papel que o gestor de saúde tem é separar o que é saúde, do ponto de vista lato, do que é decisão individual em relação à religião. São situações completamente separadas. Se você é um fundamentalista e quer andar de burca, é um direito seu. Mas não pode ir contra mim por eu não ser desse jeito — afirmou o médico.

Para ele, as sucessivas decisões do ministro da Saúde de vetar campanhas educativas de prevenção da Aids representam um “risco” ao programa de combate à doença junto a públicos mais vulneráveis, como homens jovens gays e prostitutas. Dirceu era diretor da unidade, referência no combate à doença, desde agosto de 2010. Perdeu o cargo em razão da divulgação nas redes sociais da pasta de uma mensagem elaborada por prostitutas — “Eu sou feliz sendo prostituta” — como parte de uma campanha contra a Aids.

O ex-diretor listou três vetos de Padilha “em um ano e meio” como determinantes para sua demissão do cargo. O primeiro foi a proibição de veiculação, no carnaval deste ano, de um vídeo institucional com cenas de uma relação entre dois homens, para mostrar a necessidade de uso de preservativos. O segundo foi o recolhimento, também por determinação do ministro, de um material educativo com histórias em quadrinhos que abordavam questões de homofobia e sexualidade, enviados a 13 estados das regiões Norte e Nordeste. E, por último, a determinação da retirada da mensagem das prostitutas.

— Há risco (de os vetos prejudicarem o programa de combate à doença)? Claro. Dependerá de como isso será substituído. A campanha para os jovens gays foi substituída e, na avaliação do ministro, a substituição de uma informação por outra seria tão eficaz quanto. Não temos avaliação se a substituição foi eficaz.

Filho da primeira mulher vereadora pelo PT, o infectologista retoma na próxima semana o cargo de professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ele passou o dia ontem recolhendo pertences pessoais. Por meio do Twitter, o ministro Alexandre Padilha negou ter cedido a pressões para demitir o diretor e sustentou que apenas vetou uma campanha que não condizia com a linha do ministério.

fonte: O Globo

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